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RELIGIÃO

PADRE RODRIGO LIMA: A IGREJA, CASA DA EPIFANIA

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A IGREJA, CASA DA EPIFANIA – (Solenidade da Epifania do Senhor)

  1. Hoje celebramos uma das Solenidades que ornam o ciclo natalino. A Epifania é tradicionalmente festejada em 6 de janeiro, mas no Brasil essa data é transferida para o domingo mais próximo. A festa da universalização da fé, do alcance da salvação a todos os povos. E nisto consiste o grande mistério da manifestação do Senhor: Ele se dá a conhecer porque dele todos têm necessidade. Não é um mero emblema religioso, uma figura iluminada, mas é o próprio Deus que ocasiona o grande e verdadeiro encontro das culturas. Maria e José, os pastores e agora os Magos. Homens buscadores do saber, que do Oriente se deslocam guiados pela estrela para ver o grande acontecimento de Belém. Por isso, a Epifania pode nos ensinar três grandes lições: buscar, entrar e encontrar.
  2. A busca: por onde tudo começa. Os Magos eram movidos pela sua crença. Seus deuses, suas práticas cúlticas, suas formas de vida, provavelmente eram sacerdotes da religião zoroástrica da Pérsia. Não sabemos seus nomes ou quantos eram. Quem nos oferece alguns apontamentos é São Beda, o Venerável, no seu tratado “Excerpta et Colletanea”: “Belquior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.

Dedicados ao estudo dos astros, costumavam passar longo tempo olhando os céus. Sabiam que na próxima vez que vissem aquela estrela, algo de inusitado aconteceria na humanidade. Não era um astro como qualquer outro, seu brilho era mais intenso, suas características eram peculiares. Nela estava contido um grande anúncio, uma Boa Notícia que ia além das sistemáticas buscas, dos estudos incansáveis ou das horas a fio dedicadas às profecias. Finalmente a estrela aparece, os Magos sem demora partem. Sua busca havia durado anos, agora estavam à iminência de contemplar a glória de Deus. Foram por ela conduzidos, nos diz São Mateus (2,9). Um significado todo particular pode ser encontrado nessa estrela. Os magos foram guiados pela razão para Cristo. Isso demonstra que a razão pode e deve ser também objeto da fé. Ambas não são antagônicas, mas se completam na busca pela Verdade. Quando a razão já não conseguia responder às inquietações, a fé o fez. Santo Tomás nos recorda que a fé exige duas condições: ser-nos proposto o que devemos crer, para crermos explicitamente; e o assentimento ao que nos é proposto (ST IIa IIae, Q. 6). As palavras do salmo ganham tal convertido que parecem ter sido escritas para este momento: “Meu coração diz a teu respeito: Buscai minha face. Tua face, Senhor, eu busco” (27,8). Aqueles servos não foram afastados com ira, mas sensibilizados a ver o que toda uma cidade que presenciou o acontecimento ignorava.

  1. Entrar: a Igreja como casa do Pão. Belém em sua terminologia significa a casa do pão. O evangelista narra o momento da entrada dos magos na casa da pobre família: “Entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram” (Mt 2,11). Para encontrar é necessário entrar. Os magos entram na casa que é prenúncio da Igreja, significa ousadamente dizer que entram na própria Igreja, abandonando a religião pagã e contemplando o autor da vida no colo de uma mulher. Embaraçosa cena! Deus é desconcertante! Podemos pensar que aqueles homens destinaram a vida em busca de algo concreto para responder aos seus anseios. Adoravam deuses que não existiam, os quais estavam num grau de superioridade esmagadora. Agora, acham o Salvador, a Palavra potente do Pai, necessitando cuidados de uma Mãe. A Igreja é o local por excelência do encontro de Deus. Nela se pode gozar do prenúncio de tudo quanto o Pai destinará a nós se ali permanecermos, é a nova casa do Pão vivo. Quem busca a verdade com retidão deve fazer esta experiência: inclinar-se e entrar. Dentro descobrirá que Deus se deixa alcançar, que sua voz ecoa naquela que é legada por manter íntegro o depósito da fé e conservar a unidade. A fé só tem sentido se colocada em contato com a herança de tantos irmãos que nos precederam ou que vivem a comunhão, não o individualismo.
  2. Encontrar: o ápice, mas não o fim. Depois de entrarem na casa, encontraram o Menino e sua Mãe. O encontro não é o fim da jornada, embora se constitua como o seu ponto mais alto. Após o encontro, uma série de realidades se colocam à mostra: o testemunho, o legado, a perseverança. Encontrar é ter respondida boa parte das dúvidas, mas não todas. Existem aqueles questionamentos vindos do encontro e jamais vencidos pela resposta. A grande emoção não é o encontro, é a procura. Na procura, a cautela, a incerteza, o cuidado. Mas o encontro é revigorante, um ânimo necessário para não termos a fé ressequida. Sabemos que o maior de todos os encontros nos está reservado na contemplação celestial. Aquele definitivo encontro será a explosão de amor por Deus, o vislumbre incansável, a morada permanente.

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